sexta-feira, 7 de novembro de 2014

CITAÇÕES DE BAKHTIN

Seguem para conhecimento ou citações algumas das melhores ideias de Bakhtin em formas de metáforas, diretamente extraídas de suas obras.

“a consciência tornou-se o asylum ignorantiae de todo o edifício filosófico.” (Michail Bahktin,
Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1979. p. 35);



“a consciência individual não é o arquiteto dessa superestrutura ideológica, mas apenas um
inquilino do edifício social dos signos ideológicos.” (IDEM, p. 36);



“Todas as manifestações da criação ideológica – todos os signos não verbais – banham-se no
discurso e não podem ser nem totalmente isoladas nem totalmente separadas dele.” (IDEM, p. 38);



“embora nenhum desses signos ideológicos seja substituível por palavras, cada um deles, ao mesmo tempo, se apóia nas palavras e é acompanhado por elas, exatamente como no caso do canto e de seu acompanhamento musical.” (IDEM, p. 38).



“o autor deve situar-se fora de si mesmo, viver a si mesmo num plano diferente daquele em que
vivemos efetivamente nossa vida; essa é a condição expressa para que ele possa completar-se até
formar um todo, graças a valores que são transcendentes à sua vida, vivida internamente, e que lhe
asseguram o acabamento.” (Michail Bahktin, Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 35);



“a exotopia é algo por conquistar e, na batalha, é mais comum perder a pele do que salvá-la,
sobretudo quando o herói é autobiográfico, embora esse não seja ao único caso: costuma ser tão
difícil situar-se fora daquele que é o companheiro do acontecimento quanto fora daquele que é o
adversário; tanto faz situar-se dentro do herói, ao seu lado ou à sua frente, todas estas são posições
que, do ponto de vista dos valores, desnaturam a visão e não contribuem para completar o herói e
assegurar-lhe o acabamento; em todos esses casos, os valores da vida triunfam sobre aqueles que
são seus depositários. A vida do herói é vivida pelo autor numa categoria de valores diferente
daquela que ele conhece em sua própria vida e na vida dos outros — participantes reais do
acontecimento ético aberto, singular e único, da existência —, é pensada num contexto de valores
absolutamente diferente.” (IDEM, p. 35);



“É a exotopia do autor, seu próprio apagamento amoroso fora do campo existencial do herói e o
afastamento de todas as coisas no intuito de deixar esse campo livre para o herói e para sua vida, é a compreensão que participa no acabamento do acontecimento da vida do herói, exercendo-se a partir do ponto de vista real-cognitivo e ético de um espectador que não toma parte no acontecimento.” (IDEM, p. 35)



“Essa atitude do autor vai subtrair o herói ao acontecimento, singular e único, da existência, o qual engloba o herói e o autor-homem, no qual o herói poderia situar-se ao lado do autor — quer como companheiro, à sua frente, quer como adversário, quer, afinal, no interior do autor, como ego —, vai subtrair o herói à solidariedade em comum e à responsabilidade coletiva e vai engendrá-lo, enquanto novo homem, num novo plano da existência, onde ele não poderia nascer por própria conta e pelas próprias forças, onde ele reveste uma carne nova que, para ele mesmo, não é substancial e não existe.” (IDEM, p. 34-35)


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

BAKHTIN, O HOMEM E SEU DUPLO - INTRODUÇÃO DO MARXISMO E FILOSOFIA DA LINGUAGEM

O GRUPO DE ESTUDOS BAKHTINIANOS DA UNESP ASSIS  oferece  mais um texto importante para os estudiosos de Bakhtin.
Boas Leituras e estudos



INTRODUÇÃO
l. Bakhtin, o homem e seu duplo

        M. M. Bakhtin nasceu em 1895, em Oriol, numa família da velha nobreza arruinada, de um pai empregado de banco. Passou sua infância em Oriol e a adolescência em Vilnius e Odessa. Estudou na Universidade de Odessa, depois na de São Petersburgo, de onde saiu diplomado em História e Filologia, em 1918. Em 1920,instalou-se em Vitebsk, onde ocupou diversos cargos de ensino.Casou-se em 1920 com Helena Okolovitch, que foi sua fiel colaboradora durante meio século. Bakhtin pertencia a um pequeno círculo de intelectuais e de artistas entre os quais se encontravam Marc Chagall e o musicólogo Sollertinsky, amigo íntimo de Chostakovitch. Também fazia parte deste círculo um jovem professor do Conservatório de Música de Vitebsk, V. N. Volochínov, e ainda P. N. Medviédiev, empregado de uma casa editora. Os dois tornaram-se alunos, amigos devotados e ardorosos admiradores de Bakhtin. Este círculo, conhecido sob o nome de "círculo de Bakhtin", foi um cadinho de idéias inovadoras, numa época de muita criatividade, particularmente nos domínios da arte e das ciências humanas. Ainda que contemporâneo dos movimentos formalista e futurista, ele não participou de nenhum deles.
        Em 1923, atacado de osteomielite, Bakhtin retornou a Petrogrado. Impossibilitado de trabalhar regularmente, deve ter passado por uma situação material difícil. Seus discípulos e admiradores, Volochínov e Medviédiev, seguiram-no a Petrogrado. Animados pelo desejo de vir ajudar financeiramente a seu mestre, ao mesmo tempo, divulgar suas idéias, ofereceram seu nomes a fim de tornar possível a publicação de suas primeiras obras. Freidizm (O Freudismo, Leningrado, 1927) e Marxismoe Filosofia da Linguagem (Leningrado, 1929) saíram sob o nome de Volochínov. Formalni métod v literaturoviédenie. Kritítcheskoievvdiénie v sotsiologuítcheskuiu poétiku (O Método Formalista Aplicado à Crítica Literária. Introdução Crítica à Poética Sociológica) que constituiu uma crítica aos formalistas, foi publicado em1928, também em Leningrado sob a assinatura de Medviédiev.l
Por que, então Bakhtin não os publicou com seu próprio nome?Não há dúvidas quanto à paternidade de suas obras. O conteúdo se inscreve perfeitamente na linha de suas publicações assinadas e, além disso, dispomos de testemunhos diretos. De qualquer modo, na época, o segredo foi bem guardado, pois Borís Pasternak.em uma carta endereçada a Medviédiev, manifestou seu entusiasmo e sua admiração pela presumida obra deste último e confessa que jamais pudera imaginar que em Medviédiev se ocultava "um tal filósofo". Então, por que esse jogo de testa-de-ferro? Segundo o professor V. V. Ivánov, amigo e aluno de Bakhtin, haveria duas espécies de motivos: em primeiro lugar, Bakhtin teria recusado as modificações impostas pelo editor; de caráter intransigente, ele teria preferido não publicar do que mudar uma vírgula; Volochínov e Medviédiev ter-se-iam, então, proposto a endossar as modificações. A outra ordem de motivos seria mais pessoal e ligada ao caráter de Bakhtin, ao seu gosto pela máscara e pelo desdobramento e também, parece, à sua profunda modéstia científica.Ele teria professado que um pensamento verdadeiramente inovador não tem necessidade, para assegurar sua duração, de ser assinado por seu autor. A este respeito, o professor Ivánov o compara a Kierkegaard, que também se escondeu sob pseudônimos. De qualquer forma, em 1929, no mesmo ano em que Volochínov assinava Marxismo e Filosofia da Linguagem, Bakhtin publicou, finalmente, um primeiro livro com seu próprio nome Probliemi tvórtchestva Dostoiesvskovo (Problemas da Obra de Dostoievski 2). Ele dedicará o resto de sua vida de pesquisador à análise estilística e literária.
        Volochínov e Medviédiev desapareceram nos anos trinta. Nesta época, Bakhtin vivia na fronteira da Sibéria e do Casaquistão, em Kustanai. Sempre ensinando, começou a compor suamonografia sobre Rabelais. Em 1936, foi nomeado para o Instituto Pedagógico de Saransk. Em 1937, instalou-se não muito longe de Moscou, em Kímri, onde viveu uma vida apagada até1945, ensinando no colégio local e participando dos trabalhosdo Instituto de Literatura da Academia de Ciências da U.R.S.S. Aí defendeu sua tese sobre Rabelais em 1946. De 1945 a 1961,data de sua aposentadoria, ensina de novo em Saransk, terminando sua carreira na universidade desta cidade.
A partir de 1963, começou a gozar de uma certa notoriedade, sobretudo após a reedição de sua obra sobre Dostoievski (1963) e de sua tese sobre Rabelais: Tvórtchestvo François Rabelais i naródnaia kultura sriednevekóvia i Renessansa (A Obra de François Rabelais e a Cultura Popular da Idade Média e da renascença),Moscou, 1963.Em 1969, instalou-se em Moscou, onde publicou contribuições nas revistas Vopróssi literaturi (Questões de Literatura) e Kontiekst (Contexto). Morreu em Moscou, em 1975, após uma longa doença.

Marxismo e Filosofia da Linguagem
        É  difícil afirmar com exatidão quais as partes do texto que se devem a Volochínov. Sempre segundo o professor Ivánov,que deve a informação ao próprio Bakhtin, o título e certas partes do texto ligadas à escolha deste título são de Volochínov. Não se podera, evidentemente, colocar em questão as convicções marxistas de Bakhtin; o livro é marxista do começo ao fim. Todavia como sublinha Jakobson em seu prefácio, o título não deixa de surpreender, pois o conteúdo do livro é muito mais rico do que a capa deixa entrever. Bakhtin expõe bem a necessidade de uma abordagem marxista da filosofia da linguagem mas ele aborda, ao mesmo tempo, praticamente todos os domínios das ciências humanas, por exemplo, a psicologia cognitiva, a etnologia,a pedagogia das línguas, a comunicação, a estilística, a crítica literária e coloca, de passagem, os fundamentos da semiologia moderna. Aliás, ele possui de todos esses domínios uma visão notavelmente unitária e muito avançada em relação a seu tempo.Contudo, e nesse aspecto o subtítulo Tentativa de aplicação do método sociológico em lingüística é muito revelador; trata-se,principalmente, de um livro sobre as relações entre linguagem e sociedade, colocado sob o signo da dialética do signo, enquanto efeito das estruturas Sociais.
        Sendo o signo e a enunciação de natureza social, em que me-dida a linguagem determina a consciência, a atividade mental; em que medida a ideologia determina a linguagem? Tais são as questões que constituem o fio condutor do livro. Bakhtin foi o primeiro a abordar essas questões, que a humanidade se colocou muitas vezes antes dele, numa perspectiva marxista. Portanto, é indispensável situar sua reflexão em relação ao problema fundamental que foi suscitado pela aplicação da análise marxista à língua--a língua é uma superestrutura?--e conseqüentemente,em relação à controvérsia da lingüística soviética em torno desta questão, controvérsia à qual Stálin pôs fim em 1950 com A Propósito do Marxismo em Lingüística.
Ao mesmo tempo, é preciso notar que, por sua crítica a Saussure-- o representante mais eminente do que Bakhtin chamou o objetivismo abstrato--e aos excessos do estruturalismo nascente,ele antecede de quase cinqüenta anos as orientações da lingüística moderna. Veremos que os dois aspectos se confundem.
        Bakhtin coloca, em primeiro lugar, a questão dos dados reais da lingüística, da natureza real dos fatos da língua. A língua é,como para Saussure, um fato social, cuja existência se funda nas necessidades da comunicação. Mas, ao contrário da lingüística unificante de Saussure e de seus herdeiros, que faz da língua um objeto abstrato ideal, que se consagra a ela como sistema sincrônico homogêneo e rejeita suas manifestações (a fala) individuais,Bakhtin, por sua vez, valoriza justamente a fala, a enunciação, e afirma sua natureza social, não individual: a fala está indissoluvelmente ligada às condições da comunicação, que, por sua vez,estão sempre ligadas às estruturas sociais.
Se a fala é o motor das transformações lingüísticas, ela não concerne os indivíduos; com efeito, a palavra é a arena onde se confrontam aos valores sociais contraditórios; os conflitos da língua refletem os conflitos de classe no interior mesmo do sistema: comunidade semiótica e classe social não se recobrem. A comunicação verbal, inseparável das outras formas de comunicação,implica conflitos, relações de dominação e de resistência, adaptação ou resistência à hierarquia, utilização da língua pela classe dominante para reforçar seu poder etc. Na medida em que às diferenças de classe correspondem diferenças de registro ou mesmo de sistema (assim, a língua sagrada dos padres, o "terrorismo verbal" da classe culta etc.), esta relação fica ainda mais evidente; mas Bakhtin se interessa, primeiramente, pelos conflitos interior de um mesmo sistema. Todo signo é ideológico; a ideologia é um reflexo das estruturas sociais; assim, toda modificação da ideologia encadeia uma modificação da língua. A evolução da língua obedece a uma dinâmica positivamente conotada, ao contrário do que afirma a concepção saussuriana. A variação é inerente à língua e reflete variações sociais; se, efetivamente, a evolução, por um lado, obedece a leis internas (reconstrução analógica, economia), ela é, sobretudo, regida por leis externas, de Natureza social. O signo dialético, dinâmico, vivo, opõe-se ao"sinal" inerte que advém da análise da língua como sistema sincrônico abstrato.  O que leva Bakhtin a atacar a noção de sincronia. E o surpreendente, é que Bakhtin não critica Saussure em nome da teoria marxista, largamente proclamada; ele o critica no interior do seu próprio domínio, isto é, encontra a falha no sistema de oposição língua/fala, sincronia/diacronia.
        No plano científico, objetivo, o sistema sincrônico é uma ficção; com efeito, em nenhum momento o sistema está realmente em equilíbrio, e isto todos os lingüistas admitem. Mas, para o locutor-ouvinte ingênuo, usuário da língua, esta não é tampouco um sistema estável e abstrato de sinais constantemente iguais a si mesmos e isolados por procedimentos de análise distribucional. Ao contrário, a forma lingüística é sempre percebida como um signo mutável. A entonação expressiva, a modalidade apreciativa sem a qual não haveria enunciação, o conteúdo ideológico, o relacionamento com uma situação social determinada, afetam a significação. O valor novo do signo, relativamente a um "tema" sempre novo, é a única realidade para o locutor-ouvinte. Só a dialética pode resolver a contradição aparente entre a unicidade e a pluralidade da significação. O objetivismo abstrato favorece arbitrariamente a unicidade, a fim de poder"prender a palavra em um dicionário". O signo é, por natureza,vivo e móvel, plurivalente; a classe dominante tem interesse em torná-lo monovalente.   Trata-se, justamente, de uma crítica ao distribucionalismo "neutro".
        Segundo Bakhtin, a lingüística saussuriana (o objetivismo abstrato), que pensa estar afastada dos procedimentos da filologia,na realidade, apenas os perpetua. Daí a crítica implícita da noção de corpus, prática reducionista que tende a "reificar" a linguagem. Toda enunciação, fazendo parte de um processo de comunicação ininterrupto, é um elemento do diálogo, no sentido amplo do termo, englobando as produções escritas. O corpus transforma as enunciações em monólogos. Nesse sentido, o procedimento dos lingüistas é o mesmo que o dos filólogos. Donde a idéia sempre reiterada de que o corpus, fundamento da lingüística descritiva e funcionalista, leva ao descritivismo abstrato e faz do signo um sinal (análise distribucional, estabelecimento de classes de contexto e de classes de unidade que fornecem, implicitamente, uma norma, mesmo se o método se pretende "objetivo" e "não normativo" pelo fato de se abster de evocar regras de caráter prescritivo). Os imperativos pedagógicos não deixam de ter influência sobre a prática do lingüista, na medida em que se procura transmitir um objeto-língua tão homogêneo quanto possível.
        Bakhtin coloca igualmente em evidência a inadequação de todos os procedimentos de análise lingüística (fonéticos, morfológicos e sintáticos) para dar conta da enunciação completa,seja ela uma palavra, uma frase ou uma seqüência de frases.A enunciação, compreendida como uma réplica do diálogo social,e a unidade de base da língua, trate-se de discurso interior (diálogo consigo mesmo) ou exterior. Ela é de natureza social, portanto ideológica. Ela não existe fora de um contexto social, já que cada locutor tem um "horizonte social". Há sempre um interlocutor, ao menos potencial. O locutor pensa e se exprime para um auditório social bem definido. "A filosofia marxista da linguagem deve colocar como base de sua doutrina a enunciação,como realidade da língua e como estrutura sócio-ideológica."
        "O signo e a situação social estão indissoluvelmente ligados." Ora, todo signo é ideológico. Os sistemas semióticos servem para exprimir a ideologia e são, portanto, modelados por ela. A palavra é o signo ideológico por excelência; ela registra as menores variações das relações sociais, mas isso não vale somente para os sistemas ideológicos constituídos, já que a "ideologia do cotidiano", que se exprime na vida corrente, é o cadinho onde se formam e se renovam as ideologias constituídas.
Se a língua é determinada pela ideologia, a consciência, portanto o pensamento, a atividade mental", que são condicionados pela linguagem, são modelados pela ideologia. Contudo, todas estas relações são inter-relações recíprocas, orientadas, é verdade,mas sem excluir uma contra-ação. O psiquismo e a ideologia estão em "interação dialética constante". Eles têm como terreno comum o signo ideológico: "O signo ideológico vive graças à sua realização no psiquismo e, reciprocamente, a realização psíquica vive do suporte ideológico". A questão exige mais que um tratamento esquemático. Na verdade, a distinção essencial que Bakhtin faz é entre "a atividade mental do eu" (não modelada ideologicamente, próxima da reação fisiológica do animal,característica do indivíduo pouco socializado) e a "atividade mental do nós" (forma superior que implica a consciência de classe)."O pensamento não existe fora de sua expressão potencial e, por conseqüência, fora da orientação social desta expressão e do próprio pensamento".
Também não se pode tratar esquematicamente a questão da língua como superestrutura. Nos anos 20, no momento em que Bakhtin compõe sua obra, duas tendências se confrontam em lingüística, o formalismo e o sociologismo dito "vulgar", o marxismo. Nicolau Marr leva a suas últimas conseqüências a assimilação da língua a uma superestrutura: existência de línguas de classe e de gramáticas de classe independentes e teoria da evolução' por saltos"; é difícil confirmar essa teoria nos fatos: a toda revolução na base deveria corresponder uma tão pronta evolução da língua. Tal é, em todo caso, a imagem, sem dúvida parcialmente deformada, que se pode fazer da teoria de Marr a partir da controvérsia de 1950. Bakhtin, por sua vez, insiste sobre a noção de processo ininterrupto. Para ele, a palavra veicula, de maneira privilegiada, a ideologia; a ideologia é uma superestrutura, as transformações sociais da base refletem-se na ideologia e, portanto, na língua que as veicula. A palavra serve como"indicador" das mudanças. Bakhtin não afirma jamais que a língua é uma superestrutura no sentido estrito definido por Marr, o qual acarretará, em 1950, a inapelável condenação stalinista: a base e as superestruturas estão sempre em interação. Em compensação,ele afirma claramente que a língua não é assimilável a um instrumento de produção. Ora, é precisamente esta assimilação que será formulada por Stálin, numa tentativa de dar uma imagem unificante, homogênea, neutra da língua em relação à luta de classes, o que o leva, paradoxalmente, a uma posição própria do objetivismo abstrato. Sabemos sobre que motivações de política interna (a questão das línguas nacionais na U.R.S.S.) repousava sua argumentação. Bakhtin denuncia o perigo de toda sistematização ou formalização exagerada das novas teorias: um sistema que estanca, perde sua vitalidade, seu dinamismo dialético. A versação poderia se dirigir tanto a Marr como a Stálin. Bakhtin define a língua como expressão das relações e lutas sociais, veiculando e sofrendo o efeito desta luta, servindo, ao mesmo tempo, de instrumento e de material. Como sua obra permaneceu desconhecida tanto do público soviético como do público ocidental,só o confronto de posições extremas reteve a atenção.
Todos aqueles que tinham escrúpulos em considerar a língua como uma superestrutura suspiraram aliviados em 1950, e procuraram esquecer a relação da língua com as estruturas sociais até uma época muito recente, com a emergência da sociolingüística como lingüística e não como variante periférica ou meramente anedótica.
Na terceira parte do livro, consagrada ao estudo da transmissão do "discurso de outrem", Bakhtin fez uma aplicação prática das teses desenvolvidas nas duas primeiras. Dessa forma, busca demonstrar a natureza social e não individual das variações estilísticas. Com efeito, a maneira de integrar "o discurso de outrem"no contexto narrativo reflete as tendências sociais da interação verbal numa época e num grupo social dado. Apóia-se, para firmar sua tese, em citações extraídas de Púchkin, Dostoievski,Zola, Thomas Mann, isto é, de obras individuais que ele insere no contexto da época e, portanto, da orientação social que aí se manifesta. Aborda, igualmente, o papel do "narrador", que toma o lugar do autor da narrativa, com as interferências que isso implica. Esta é, certamente, uma de suas contribuições mais originais. Não há para ele fronteira clara entre gramática e estilística.O discurso indireto constitui um discurso encaixado no interior do qual se manifesta uma interação dinâmica. A passagem do estilo direto ao estilo indireto não se faz de maneira mecânica (isto lhe dá a oportunidade de criticar os exercícios escolares "estruturais", critica que permanece totalmente pertinente hoje em dia). Essa passagem implica análise e reformulação completa,acompanhadas de um deslocamento e/ou de um entrecruzamento dos "acentos apreciativos" (modalidade).
A análise estilística, parte integrante da lingüística, aparece como a preocupação essencial de Bakhtin. A lingüística--como, ao que parece, para Saussure--surge como o instrumento privilegiado e indispensável para levar a bom termo os trabalhos de análise literária, que ocuparão a maior parte de sua vida. Como Saussure, ele é, em vários aspectos, um homem do século XIX, um homem de gabinete, de cultura enciclopédica, um verdadeiro "não-especialista". É entre pessoas assim que, conseqüentemente, encontramos os melhores especialistas de uma disciplina.


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

TEXTO IMPRESCINDÍVEL DE BAKHTIN - ARTE E RESPONSABILIDADE

Amigos leitores e estudiosos de Bakhtin

O blog disponibiliza agora um texto basilar para entendimento de muitos pensamentos de Bakhtin. Arte e Responsabilidade. Texto fácil, curto, bom entendimento e um colosso de inteligência.

Aproveitem e forte abraço

ARTE E RESPONSABILIDADE – Mikhail Bakhtin

Chama-se mecânico ao todo se alguns de seus elementos estão unificados apenas no espaço e no tempo por uma relação externa e não os penetra a unidade interna do sentido. As partes desse todo, ainda que estejam lado a lado e se toquem, em si mesmas são estranhas uma às outras.

Os três campos da cultura - a ciência, a arte e a vida - só adquirem unidade no indivíduo que os incorpora à sua própria unidade. Mas essa relação pode tornar-se mecânica, externa. Lamentavelmente, é o que acontece com maior freqüência. O artista e o homem estão unificados em um indivíduo de forma ingênua, o mais das vezes mecânica: temporariamente o homem sai da “agitação do dia-a-dia" para a criação como para outro mundo "de inspiração, sons doces e orações". -O que resulta daí? A arte é de uma presunção excessivamente atrevida, é patética demais, pois não lhe cabe responder pela vida que, é claro, não lhe anda no encalço. "Sim, mas onde é que nós temos essa arte - diz a vida -, nós temos a prosa do dia-a-dia".

Quando o homem está na arte não está na vida e vice-versa. Entre eles, não há unidade e interpenetração do interno na unidade do indivíduo. O que garante o nexo interno entre os elementos do indivíduo? Só a unidade da responsabilidade. Pelo que vivenciei e compreendi na arte, devo responder com minha vida para que o todo vivenciado e compreendido nela não permaneçam inativos. No entanto, a culpa também está vinculada à responsabilidade. A vida e a arte não devem só arcar com a responsabilidade mútua mas também com a culpa mútua. O poeta deve compreender que a sua poesia tem culpa pela prosa trivial da vida, e é bom que o homem da vida saiba que a sua falta de exigência e a falta de seriedade das suas questões vitais respondem pela esterilidade da arte. O indivíduo deve tornar-se inteiramente responsável: todos os seus momentos devem não só estar lado a lado na série temporal de sua vida, mas também penetrar uns nos outros na unidade da culpa e da responsabilidade.

E nada de citar a "inspiração" para justificar a irresponsabilidade. A inspiração que ignora a vida e é ela mesma ignorada pela vida não é inspiração mas obsessão. O sentido correto e não o falso de todas as questões antigas, relativas às inter-relações de arte e vida, à arte pura, etc., é o seu verdadeiro patos apenas no sentido de que arte e vida desejam facilitar mutuamente a sua tarefa, eximir-se da sua responsabilidade, pois é mais fácil criar sem responder pela vida e mais fácil viver sem contar com a arte.

Arte e vida não são a mesma coisa, mas devem tornar-se algo singular em mim, na unidade da minha responsabilidade.

Bakhtin, M. Arte e Responsabilidade. In: Estética da Criação verbal. 4.ed. Martins Fontes. São Paulo. 2003. Trad. de Paulo Bezerra.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

ALTERIDADE - Primeiro conceito importante


Antes de mais nada, muito se diz sobre a dialogia e a polifonia, mas para entender Bakhtin é preciso ter noções claras de um conceito seu muito pouco estudado inicialmente por Bakhtinianos que é o da ALTERIDADE.

Bakhtin afirma que é com a alteridade que indivíduos constituem-se e inicialmente o ser passa a se ver refletido no outro que a partir daí passa a se refratar.

Como indivíduo, se eu me constituo eu começo a me alterar constantemente e esse processo não provém da consciência que possuo e sim vai se formando socialmente  através das diversas interações que faço por meio dos signos e das palavras. Logo, eu só posso me constituir a partir do outro.

Vai ser isso que no final acaba movimentando o todo da língua. Bakhtin em seus estudos sempre vai relacionar a alteridade com polissemia, heteroglossia, ideologia e pluralidade porque são conceitos que sempre surgem da relação com o outro.

Quem quiser saber melhor basta conhecer "Estética da Criação Verbal" e chegar ao ponto em que o mestre russo vai afirmar que se torna impossível defender uma posição se não estiver correlacionada com outras.  Ou seja, Bakhtin afirma a obrigatoriedade do outro em nosso processo de construção de identidade e constituição do sujeito.

A alteridade é o conceito chave que dá fundamento à identidade do sujeito.

Bons estudos....

Ivo Di Camargo Junior
Mestre em Linguística - UFSCar

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Série Conceitos Bakhtinianos

Caros leitores , estudiosos e interessados em Mikhail Bakhtin:

A partir de hoje o GEB Unesp Assis vai começar a disponibilizar conceitos chave do pensamento Bakhtiniano em resumidos textos, com qualidade, a fim de dar mais sustentação ao estudo inicial ou avançado de milhares de pessoas que se aventuram em conhecer as palavras do mestre russo.

Caso queiram colaborar conosco enviando o seu conceito para que seja aqui divulgado, escreva para bakhtinianos@gmail.com e contribua.

Divulgue nosso trabalho junto a seus colegas, amigos e leitores para que juntos consigamos popularizar ainda mais os pensamentos deste russo que hoje embasa as mais modernas teorias da linguagem existentes.


sexta-feira, 4 de julho de 2014

Comunicado - Dra. Ester - Líder GEB

Olá caros amigos,

Em nossa última reunião propomos a leitura dos textos produzidos para o IEEBA- Juiz de Fora, nossos encontros serão mais frequentes e nossa ideia é a de que todos possam contribuir para a construção de um projeto na área de educação e letramento. Cada integrante presente elegeu um texto para dialogarmos no nosso próximo encontro (26/07 – 14h15).

 Aos colegas que não estavam presentes fazemos a mesma proposta, elejam um texto da indicação feita e/ou fiquem a vontade para indicar outros textos que contribuam para nossos diálogos. Lembramos também, que as inscrições para o Rodas estão chegando. Os textos escolhidos são:
• O ensino de gramática – Adriana Martins Modesto ( LIA)
• O cinema como instrumento responsável e dialógico na educação – Dirce Léia Paula Padilha (ADRIANO)
• Aula de literatura: o uso responsável e é sua própria produção literária – Daniel Prestes da Silva (TANIA)
• O dialogismo, alteridade e a polifonia na teia da complexidade humana – Rosangela Padilha Thomaz dos Santos (FABIANO)
• O ser humano-educador: Resposta em construção na sociedade em transformação –Lúcia Helena Shuchter e Gilberto Fernandes Ferreira (ÉRIKA)
Os textos podem ser encontrados no bloghttp://textoseeba.blogspot.com.br/.

Abraços
Ester

terça-feira, 27 de maio de 2014

Palestra - A filosofia do ato responsivo e responsável e o ensino de Língua Portuguesa no horizonte sócio-histórico contemporâneo

A filosofia do ato responsivo e responsável e o ensino de Língua Portuguesa no horizonte sócio-histórico contemporâneo 



Luciano Novaes Vidon 



UFES 

Para uma filosofia do ato responsável, tradução realizada por Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco, com o apoio organizacional de Augusto Ponzio e do GEGê – Grupo de Estudos dos Gêneros do Discurso, de São Carlos-SP, publicado em 2010, pela Pedro&João Editores, é uma obra inacabada de um Mikhail Bakhtin jovem, entre vinte e vinte e cinco anos, recém formado e recém chegado a Vitebsky, onde se reunirá a alguns círculos de estudo, entre eles o que ficará conhecido como Círculo de Bakhtin. É um texto ousado, questionador, crítico, como em geral é o espírito juvenil. Mas, acima de tudo, é um texto filosófico, da esfera filosófica, e de linguagem e dialogicidade filosóficas. De acordo com Ponzio (2010), o que chegou até nós seria tão somente a introdução e uma primeira parte de um projeto mais ambicioso de um tratado de filosofia primeira, ou Prima Philosofia , voltado para questões éticas e morais. Bakhtin inicia e finaliza sua vida humana e acadêmica tendo muita clareza de que o que o interessava, efetivamente, não era a língua e a linguagem em si mesmas, mas as questões mais fundamentais e, portanto, filosóficas. Não era, portanto, o linguístico que o interessava, desde o início de suas reflexões, mas o translinguístico, como toda sua obra e dos demais autores do Círculo de Bakhtin sempre propuseram. Neste trabalho, partindo da noção de responsividade, extraída de Para uma filosofia do ato responsável, analisamos dados de aquisição da escrita, em que o professor responde a seu aluno, a fim de refletirmos sobre Educação, Letramento e Responsividade. 

sexta-feira, 23 de maio de 2014

PALESTRA - Considerações sobre leitura e escrita na escola pública de educação básica


 Exposição oral para a abertura do IV Colóquio Baktiniano – Educação, Letramento e Responsividade, promovida pelo Grupo de Estudos Bakhtiniano/ GEB-Assis, ocorrida no Salão Nobre da UNESP – Assis, SP, em 19/05/2014.

Considerações sobre leitura e escrita na escola pública de educação básica

RUTH MARIA BARBIERI


Ao ser convidada a participar desta mesa e tratar de um tema caloroso e polêmico: Educação e Letramento – fiquei por dias buscando algumas leituras tentando articulá-las ao meu repertório sobre este assunto que, embora complexo, me é caro e motivo de preocupação , em relação a índices de avaliações externas, resultados internos de desempenho de alunos e a própria dinâmica da comunicação que ocorre na sociedade e na escola.
Lembrei-me, também, de um fragmento de Carlos Drummond de Andrade, no qual ele expressa perfeitamente o sentimento contraditório presente no seu ofício: “Lutar com palavras é a luta mais vã, entanto lutamos mal rompe manhã...”

Caros!
Permitam-me trazê-lo para esta noite...
Lutar com palavras é a luta mais vã
Entanto lutamos mal rompe manhã (...)
Deixam-se enlaçar, tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça e nem há sevícia
que as traga de novo ao centro da praça.

E é assim que às vezes me sinto, diante de desafios rigorosos, porém necessários ao desenvolvimento das reflexões sobre a teoria, especialmente a desta noite, (a teoria bakhtiniana e sua relação com a prática escolar). E mesmo diante deste paradoxo, diante do rigor deste desafio, muitas vezes por meio de palavras que súbito fugirão, tecerei algumas considerações sobre leitura e escrita na escola pública de educação básica. Farei aqui um breve relato sobre como os documentos legais abordam leitura e escrita na Educação Básica, objeto de estudo do meu campo de atuação profissional.
Já em seus artigos iniciais, a Lei de Diretrizes e Bases (Lei Federal nº 9394, de 20/12/1996) prevê que a Educação abrange os processos formativos que se desenvolvem em todos os âmbitos da convivência humana, e que deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à pratica social.
Além disso, a Educação tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Se seguirmos além, poderemos observar, no artigo 3º, que o ensino será ministrado, de acordo com alguns princípios, dentre outros, a vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
Isso posto, a reflexão que me permito fazer é que a LDB associa a Educação às práticas sociais e ao trabalho, devendo os responsáveis pelo ensino promover tal interação. Não podemos, assim, furtar-nos às exigências contemporâneas, ao mundo tecnológico que nos envolve, às demandas do mundo do trabalho, tais como formar o cidadão para atuar diante das necessidades desta sociedade de consumo, globalizada e hegemônica.
Uma necessidade que se impõe, dentre tantas, é a capacidade de os jovens realizarem um aprendizado formal, permeado pelo conhecimento que se constrói pela leitura e escrita. Capacidade esta que reflete nas interações sociais que ocorrem no âmbito da escola e nas demais práticas sociais. cabe à escola realizar a significação do conhecimento formal, possibilitando ao aluno atuar conscientemente nas esferas sociais em que vive. Cabe à escola, capacitar o aluno para enfrentar os desafios contemporâneos que se impõem constantemente, ora transformando a realidade em que vive, ora transformando-se para inserir-se no mundo do trabalho e da tecnologia, ora buscando preservar o meio ambiente e/ou o seu espaço social, por exemplo.
Já, as Diretrizes curriculares nacionais gerais para a educação básica, embasadas pela LDB, revisadas nos anos anteriores e republicadas em 2013, explicitam mais a necessidade do desenvolvimento da leitura e da escrita como uma prática, uma construção social... Em sua página 50, ao tratarem do projeto político-pedagógico da escola, orientam a comunidade educacional a engendrar o entrelaçamento entre trabalho, ciência, tecnologia, cultura e arte; e que, por meio de atividades específicas para cada etapa do desenvolvimento humano, prevejam, dentre outros, a valorização da leitura em todos os campos do conhecimento, desenvolvendo a capacidade de letramento dos estudantes;
Em sua página 26, ao tratarem da organização do currículo para a educação básica, as diretrizes explicitam a necessidade de o conhecimento científico e as novas tecnologias estabelecerem-se como condição para a pessoa se posicionar frente a processos e inovações que a afetam. Alertam que tanto o docente quanto o estudante e o gestor requerem uma escola em que a cultura, a arte, a ciência e a tecnologia estejam presentes no cotidiano escolar, desde o início da Educação Básica.
Assim, podemos depreender que a leitura e a escrita são as principais ferramentas para a aquisição desses saberes, e leitura inserida e contextualizada na dinâmica do dia a dia escolar. Não a leitura fragmentada, de pontos escolares a serem decorados e reproduzidos, mas textos em variados gêneros que trazem em seu bojo as práticas sociais comuns em que circulam.
Tem sido um movimento muito lento, tem sido muito difícil realizar esta transição – da escola tradicional, facetada e compartimentada, em todos os sentidos inclusive nas disciplinas curriculares e seus conteúdos para uma educação que atenda aos princípios que embasam a legislação escolar... Contudo, estados e municípios já vêm se fortalecendo a partir de parcerias com as universidades, práticas mais acertadas em relação à leitura, trabalho de formação continuada de professores e gestores, programas e projetos de incentivo à leitura e construção e/ou reconstrução de currículos unificados, porém flexíveis e passíveis de adequações, ações que deem conta do processo de letramento de todos os alunos.
É sabido que conciliar diferenças culturais, sociais, socioeconômicas é extremamente complexo, pois estão jogo muitos valores que precisam ser superados, considerados, revistos...
Questões que ultrapassam o âmbito profissional, acadêmico; questões muitas vezes individuais que fogem do trato oficial, e que em confronto com o embasamento teórico, com a legislação vigente, com as orientações expressas dos documentos oficiais, não permitem que muitos indivíduos (profissionais da educação básica) saiam de sua zona de conforto e reajam positivamente às intervenções necessárias na sua prática.
Temos consciência desses conflitos! Mas sempre vamos insistir nas intervenções, nas reflexões acerca dos movimentos emancipadores que requerem novas posturas frente às demandas das novas gerações...
Paralelamente à normatização federal, embasadora da legislação dos sistemas estaduais e municipais de educação, foi se construindo o Currículo Oficial do Estado de São Paulo a partir de 2008, consolidando-se por força da necessidade de unificação dos componentes e conteúdos das disciplinas do ensino para todas as escolas públicas estaduais de educação básica, em atendimento às exigências das comunidades para que o órgão público oferecesse um ensino de melhor qualidade em consonância com as necessidades contemporâneas, e também por possibilitar um parâmetro de medida confiável dos níveis de desempenho dos alunos, como indicadores para a avaliação externa.
Em sua apresentação, o currículo oficial do estado de São Paulo traz os princípios sob os quais se construiu: a escola que aprende; o currículo como espaço de cultura; as competências como eixo de aprendizagem; a articulação das competências para aprender; a contextualização no mundo do trabalho; e como não poderia deixar de ser a prioridade da competência de leitura e de escrita.
Ao tratar da prioridade para a leitura e para escrita, explicita a necessidade de o aluno saber usar a língua em situações subjetivas ou objetivas que exijam graus de distanciamento e de reflexão sobre contextos e estatuto de interlocutores, ou seja, a competência comunicativa vista pelo prisma da referência do valor social e simbólico da atividade linguística, no âmbito dos inúmeros discursos concorrentes.
Segue argumentando que devido a esse caráter essencial da competência de leitura e de escrita para a aprendizagem dos conteúdos curriculares de todas as áreas e disciplinas, a responsabilidade por sua aprendizagem e avaliação cabe a todos os professores, que devem transformar seu trabalho em oportunidades nas quais os alunos possam aprender e consigam consolidar o uso da Língua Portuguesa e das outras linguagens e códigos que fazem parte da cultura, bem como das formas de comunicação em cada uma delas.
O desenvolvimento da competência linguística do aluno, nessa perspectiva, não está pautado na exclusividade do domínio técnico de uso da língua legitimada pela norma-padrão, mas, principalmente, no domínio da competência performativa: o saber usar a língua em situações subjetivas ou objetivas que exijam graus de distanciamento e de reflexão sobre contextos e estatutos de interlocutores, ou seja, a competência comunicativa vista pelo prisma da referência do valor social e simbólico da atividade linguística, no âmbito dos inúmeros discursos concorrentes.
A leitura e a produção de textos são atividades permanentes na escola, no trabalho, nas relações interpessoais e na vida. Por isso mesmo, o Currículo proposto tem por eixo a competência geral de ler e de produzir textos, ou seja, o conjunto de competências e habilidades específicas de compreensão e de reflexão crítica intrinsecamente associado ao trato com o texto escrito.
As experiências profícuas de leitura pressupõem o contato do aluno com a diversidade de textos, tanto do ponto de vista da forma, quanto no que diz respeito ao conteúdo. Além do domínio da textualidade propriamente dita, o aluno vai construindo, ao longo de sua aprendizagem e de sua vivência no mundo escolar, um repertório cultural específico relacionado às diferentes áreas do conhecimento que usam a palavra escrita para o registro de ideias, de experiências, de conceitos, de sínteses etc.
Na minha concepção, a maioria dos indivíduos que passarem pela escola pública de educação básica, em que a leitura e a escrita sejam princípios privilegiados, como os descritos anteriormente, no mínimo terão condições de adquirir autonomia; interagir com culturas diferentes; expressar-se de acordo com o contexto social ou profissional em que atua ou em que pretende atuar; apreciar esteticamente diferentes manifestações culturais; compreender criticamente a dinâmica do mundo globalizado; responder às demandas de sua própria comunidade e agir de maneira a propor soluções para problemas; preservar ou transformar ambientes urbanos e compreender os fenômenos naturais preservando o ambiente em que vive; participar, de forma ativa, de comunidades acadêmicas, culturais, artísticas ou científicas; atuar no mundo do trabalho com competência técnica e criticidade; compreender que embora inserido numa sociedade globalizada, excludente e preconceituosa como a nossa, tem direito de usufruir dos bens produzidos pela humanidade e tem potencialidades para produzir conhecimento científico ou arte, nas suas mais diversas manifestações...
Entendo que os sistemas de ensino devem promover espaços de reflexões, de compartilhamento de saberes, ideias, práticas de sucesso em sala de aula, enfim... fomentar a criação de comunidades de estudo a partir de princípios éticos de assertividade, apoio mútuo, revisão de práticas, abertura para o novo, para a transformação consciente, a fim de que a prioridade para a leitura e escrita nas escolas seja atendida por todas as suas instâncias profissionais.
Entendo que universidade e profissionais de educação básica devam encontrar-se mais para compreenderem cada um a lógica de atuação do outro, e buscar um caminho menos árduo para a aprendizagem daquele que precisa ensinar no dia a dia, independente de se preparar ou não para isso, estudar novas teorias ou não, acreditar nessas teorias ou não, conciliar seus dramas individuais com os dramas dos seus alunos ou não...
Quando conseguirmos uma integração mais assertiva, um comprometimento ético em todos os âmbitos, certamente que a educação avançará, que novas intervenções no documento legal será uma demanda fundamentada pela parceria e pressão desses profissionais, e o governante necessariamente deverá atender...

Não sei se esse meu desejo é utopia, sei que é por essa educação que luto dia a dia, pode até ser uma luta vã... entanto luto mal rompe manhã

terça-feira, 20 de maio de 2014

VII Colóquio Bakhtiniano - primeiras pós-impressões



Caros amigos, o nosso Colóquio mais uma vez foi um sucesso. Graças ao empreendimento e empenho de todos os membros, especialmente os que estiveram presentes na UNESP Assis nesta segunda-feira 19 de
maio. Obrigado a todos.




































domingo, 4 de maio de 2014

Circular da Líder do Grupo

Olá Caros amigos,
Na nossa última reunião acertamos os detalhes finais para nosso VII Colóquio, devido a compromissos inadiáveis na Reitoria, me permiti mudar a data do Colóquio para o dia 19/05 ás 19h30 no Salão de Atos. Esta data facilitará a participação de alguns membros que precisarão de afastamento e justificativa para o evento. Outra novidade é a participação do terceiro participante do diálogo; trata-se da Supervisora de Ensino da Rede Estadual Ms. Ruth Maria Gonçalves Barbieri. Por outra parte, fomos convidados a participar de outros eventos importantes, tais como:
- V Ciclo de Estudos Discursivos - CED (procurem mais informações pelo facebook)
* 16/05 Quando a voz do herói se sobressai - Ester Myriam Rojas Osorio (UNESP/ Assis)
*06/06 Multiletramentos à luz da arquitetônica bakhtiniana - Rosineide de Melo (Centro Universitário Santo André)
* 13/06 A morte do herói e a morte do homem na ECV - Grenissa Stafuzza (UFG)
*27/06 Autoria em blogs de escrita criativa- Marina Célia Mendonça (UNESP/Araraquara)
O Autor em Bakhtin - Renata Coelho Marchezan (UNESP / Araraquara)
- Rodas de Conversas Bakhtinianas
* O tema será “PRAÇA PÚBLICA. MULTIDÃO. REVOLUÇÃO. UTOPIA”, as inscrições serão nos dias 06 e 07 de setembro, o evento acontecerá em NOvembro. (maiores informações no site http://gegeufscar.wordpress.com/)
Espero vocês em nosso Evento
Abraços
Ester

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Novo Livro GEB Unesp Assis


Caros Bakhtinianos de todo o Brasil.

Após um grande passo que foi a conferência de nossa líder do GEB UNESP Assis na Sorbonne, em Paris-França, o novo livro do GEB vem para acrescentar mais um capítulo na longa e produtiva história de estudos bakhtinianos no Brasil.

Em breve, no máximo em um mês, contaremos com o livro pronto

Mikhail Bakhtin com:

diálogos entre literatura e o cinema Latino-americano.

Com certeza um grande livro sobre estudos Bakhtinianos aliados aos estudos de Cinema e suas linguagens.

Aguardem... em breve.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Líder do GEB UNESP ASSIS palestra na Sorbonne em Paris.


Mais uma vez o Grupo de Estudos Bakhtinianos da Unesp Assis sai na vanguarda dos grupos Bakhtnianos brasileiros ao internacionalizar-se através da Palestra proferida por nossa Líder de grupo a Professora Doutora Ester Myriam Rojas Osorio na Universitè Paris IV - Sorbonne, onde proferiu, representando o Grupo e a UNESP a palestra que demonstrava os discursos humorísticos auxiliando a ensino de Português para estrangeiros.


Maiores informações podem ser conferidas no site da própria UNESP, o que nos enche de orgulho por mais uma vez nossa Líder representar ao Grupo, levando-nos a outro patamar de reconhecimento.

http://www.unesp.br/portal#!/noticia/13928/professora-da-unesp-realiza-palestra-na-sorbonne-em-paris/